sábado, 10 de novembro de 2012

Divagações



Nos meus olhos, entre os sorrisos de alegria
há sempre a melancolia,
há sempre uma despedida;
e são tantas na minha curta vida
e tantos são os desencontros
que já nem sei entre meus encantos,
qual perece ou qual, descrédulo, se finda.

Já não sei quando meu sorriso
sem mácula,  e de medo desprovido,
amorosamente se abrirá.
E não sei como se encontra
esse último sentido
que o erro entre meus acertos, descortinará.

Não sou mulher, não sei as regras.
Não sigo o protocolo dos desejos,
não sei caminhar por entre as frestas.
Sou um ser humano desprovido de malícia
que completamente se dá
e completamente se retira
às dores, aos amores e às delícias....

domingo, 30 de setembro de 2012

Quimera



Pensando em ser mais corpo que espírito,
talvez para fincar mais meus pés à terra
e menos aos céus vaguear minha mente,
percebo que me tornei qualquer coisa de diferente.
Um ser à parte, uma quimera...

Pois quanto mais força adquire meu corpo,
mais ainda dele me liberto.
O que dantes era ferrugem e rangia;
o que era cinza de poeira que estava coberto,
agora é silêncio, é leveza, primavera.

E me torno o oposto do que queria:
um ser que plaina no reino das ideias,
do imaginário, da poesia
e um ser que  cada vez mais se distancia
daquilo que um dia quisera...

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Vertigem





Meu coração é uma montanha russa
Minha vida é, portanto, só vertigem
Na verdade pouca coisa me aflige
Só a falta do teu amor me entristece.
Vez em quando, lá vem ela e me acusa:
- Por quê sentes? Por quê ainda se enternece?
- Por quê não aceitas logo esta recusa?
É, meu caro, eu não sei essa resposta!
Pois quando penso que passou, ele aparece
Esse amor que, de teimoso, não perece
Indo e vindo neste caminho sem sentido
Não contente, quer sentir o vento no rosto
e displicente na janela se debruça
Ah, meu coração é traiçoeiro
Ah, meu coração é uma montanha russa!


segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Ecos





Esconda a tua alma enquanto é tempo
Vá, esconda-te ao relento!
Que imperioso é o ser, o sentir
Deixa a tua ânsia se extinguir
Resolve-te na tristeza
Ainda há alento na beleza
Que a renuncia à tudo traz!
Vá, vá embora,
Sem se mostrar a ninguém
E encontre na solidão algo além da tua paz.

domingo, 1 de julho de 2012

Esmeril da vida





Que fardo é este que carrego comigo?
Onde a dor da alma dilacera o corpo
Onde a dor de um coração partido
vem também rasgar minhas entranhas

Porque será que sempre me acompanhas
Como uma sombra, um espectro, um silêncio
A gerar sempre uma despedida
A mostrar do amor um falso encanto

O que quer da minha alma ainda,
se não posso desaguar meu pranto?
Este rio, no meu corpo, é ferida
Este rio, na sua alma, é espanto

Eu só sei que semeio em minha vida
tudo que minha alma tem de amor
Mas minha alma purifica ainda
Vida, teu esmeril  é a dor!

terça-feira, 26 de junho de 2012

Perfume do vento (à minha mãe)

Que a mágica dança dos ventos
Que transforma tudo em beleza
Sempre que puder, me traga
O perfume de sua presença

Que seus olhos sempre mire os meus
Com doçura e compreensão
Que Deus sempre lhe guarde
Em minhas lágrimas de emoção

Teu amor por mim foi tanto,
Meu amor por ti, tão imenso
Que gerou, como por encanto
Um doce perfume no vento...


quinta-feira, 14 de junho de 2012

Oração do Adeus

Vento suave que toca meus cabelos
Leva o pensamento a quem distante está
Leva para ele o alento
Tira toda dor e tormento
Custe o que custar

Terra, firma meus pés no chão
Impede que esse pobre coração
Seja sombra de alguma dor
Nasci para ser sozinha
Minha alma ainda será minha
Se para ele, ela não for

E mar, que guarda mistérios
Guarda também meus segredos
E a ele somente diz
- Ela partiu, foi embora
Pois percebeu, outrora
Que isso o faria feliz

domingo, 10 de junho de 2012

Quero te dar flores

Flores, quero te dar flores
Vai coração, liberta-te
Das conveniências, das dores
Aos meus amores, entrega-te
Venha me banhar de paz

No fechar dos olhos, vejo cores
Espectro dos meus sonhos sem sentido
Sinto o teu sussurro ao meu ouvido
Provo do teu mel, forte e fugaz
Olho e te procuro aonde não estás

Guardo-te em carinhos e temores
Fito-te e meu coração se desfaz
Quero te cobrir de rosas
Quero-te em todas as coisas
Coisas que não tenho mais

Salva minha alma das dores
Que tua ausência me traz.
Flores, quero te dar flores
Flores, tragam minha paz.

terça-feira, 3 de abril de 2012

Eu não te amo

Eu não te amo mais!
Decidi neste minuto
Cansei de viver neste acorde diminuto
Nesta expectativa constante de um beijo voraz
Eu não te amo mais!

Decidi que vou ser fria
Já não gosto de ninguém
Deixo a melancolia pra quem crê no meu desdém!
Ela não é mais minha
Me conformei em ser só
Minh'alma já virou pó
Tudo que eu tenho é paz
Eu não te amo mais!

O sonho ou a vida?

você é meu sonho inventado

é tudo que eu quero viver

no meu sonho você me ama e eu,

ah, no meu sonho, eu amo você

Você é minha fuga, meu amante

é o carinho que me falta

é o desejo que anseio

Se na realidade me escapas

eu logo o reinvento e me sacio

Quanto menos a vida me dá

mais o sonho vivencio

às vezes, me pego a pensar

E se o sonho virar vida?

E a vida? O que será?

Boa noite meus amigos!

Boa noite meus amigos!

Vou dormir que o dia finda;

Enquanto meu corpo descansa,

minha alma trabalha ainda.

A manhã é reflexo dos sonhos,

mas a noite é reflexo da vida;

Meu corpo precisa do descanso,

minha alma aos desejos brinda!

domingo, 25 de março de 2012

Pedido

Alguém arranque meu coração do peito
Não sei, acho que deu defeito
Com ele não sei mais lidar

Às vezes sou pluma leve
que voa pelo vento
no outro instante rebento
sou barco a naufragar

Alguém que de piedoso se faça
arranque-o dessa carcaça
pra que eu viva como se deve

Que viva da emoção fingida
Pois a real é por demais sem medida
mesmo que às vezes me eleve

Arranque, arranque-o agora
ou deixe-o para minha desgraça
Já não há o que se faça
minha alma já se perdeu...

sábado, 17 de março de 2012

Fita-me

Fita-me agora se tens coragem
Fita-me agora nua
Olha meus olhos secos pela verdade crua
Engula de vez minha honestidade

O que tens agora pra me dar,
mundo cruel de subterfúgios fugazes?
Olhares esguios de desejos lascivos?
Superficialidades?

Eu te dei tudo! Ou tiraste!
Corpo, alma, vida, nada disso é meu
Agora devolva-me o que me é de direito
Me dá o que me já faz parte!
Deixe-me viver completa!
Deixe-me viver de arte!

quinta-feira, 15 de março de 2012

Bom dia (Modinha)

Bom dia amado, estou aqui

Pra te sorrir, sem te esperar

Sentindo a calma que me traz

Nas cores do seu olhar


Sem querer mais do que me podes dar

E sem sofrer, não, tu não me trazes uma dor!

Ó amado deixa o seu olhar

Pousar nos meus olhos cheios de paixão


Sem querer mais do que me podes dar

E sem sofrer! Não, tu não me trazes uma dor!

Ó amado deixa o seu olhar no meu para minha paz


Dezembro

Vem e transforma em canção
Vê se transforma também
Com o acender das luzes o meu cantar

As velas nos pés do altar
O chá que vem do fogão
Me remete ao tempo
Que era pra ser feliz

A chuva na janela
São as lágrimas que verti
E que permito me deixar lavar

Ó chuva seja oração
Ó vento leve a dor
Que limita a força do meu cantar

Nas ruas luzes no ar
E nos olhares, amor
Nesse mês de festa, e tudo me faz lembrar

Das lágrimas que não chorei
Da chuva que não caiu
Que preciso me deixar lavar...

Canção para Júlia

Vem, desata-te dos laços
Liberta-te de toda mágoa que invadiu seus olhos num silêncio seu
E deixa sua alma faceira voar
Dance também com seu coração
No ritmo que o meu amor embala esta canção

Vem,
Entre meus braços sonhar
E ser o que você quiser
Uma bailarina, um pirata ou colombina
Descansa de ser mulher

Vem, dança nesse compasso
Encanta-me com a beleza que ninguém mais vê nesse sorriso seu
E deixa sua alma faceira voar
Dance também com seu coração
No ritmo que o meu amor embala esta canção

Momento

O ontem nunca existiu

O amanhã não existirá

Estamos nós, estáticos, medrosos

Sentados neste sofá

Nesse momento infinito

Perdidos, um no outro, no olhar


Esse é o momento

Estamos eu, você e as paredes

O que veio antes não está aqui

O que vem depois: afã

Se é, se não é

O que vai ser, o que não vai

Nada vai mudar amanhã


Pois todo meu amor eu vou deixar aqui

nesse momento pleno e infinito

Bem me quis

Bem me quer, mal me quer
Bem me quer, bem me quer
Eu te quero, você me quer
Faça-se a mágica
Venha o que vier
Venha agora
Amanhã pode não ser
Afasta o que te impede
Reforça o que te impele
Pele, boca, corpos, querer
Eu te quero, você...

Migalhas de afeto

Amar é sorver migalhas

Amo-te nas malhas da escuridão

Hoje sou estorvo, amanhã imensidão

Sou a luz que entra de vão em vão


Meu silêncio é alto

Minha fala é falha

Sou boca que cala

E que perde o chão

Tento ter censura e ponderação

Mas minha mente é selva

É mar alto, é paixão


Amar é sorver migalhas

É conter fornalhas

É pedir perdão

O amor é claro, o egoísmo turvo

Teu ouvido é surdo

Meu esforço é vão

Espelho

Estou só

E a solidão em nada me constrange

Olho bem pra mim mesma adiante

E mesmo nessa noite fria

Sou pra mim, boa companhia


As horas passam e o dia vem

A solitude ainda me detém

Os meus olhos a paisagem abrange

Mas o espelho ainda me convém


Os dias se sucedem em cada data

Quando ele vem e me resgata

A louca em se tornar sensata

Em seu temor e em seu desdém

Natureza humana

Sou regida pelo tempo

A natureza está em mim

Piso na relva úmida

e meus pés não tem um fim

O sol irradia meu júbilo

a chuva carrega minhas lágrimas

Se o vento os meus cabelos tocar

Eu sou o ar

Eu sou o ar...

Sou o canto dos pássaros

Eu sou a madrugada

Tenho as cores do horizonte

as matizes da alvorada

O meu peito é a tormenta

Minha alma é andorinha

Que não se constrange em voar

E sem amor,

Não sei cantar.

Gota d'água

De todas as angústias que abatem

A pior é aquela que me esconde

Habita o meu ser sei lá aonde

Como a fera em sua jaula se debate


Ora faz querer me ver só pelo avesso

Como pérola isolada em sua concha

Ora explode como um missel, um torpedo

Procurando qualquer alvo que a detone


A angústia que se faz dentro de mim

É produto de fator irrelevante

Que engolido um pouquinho em cada dia

Transborda nessa angústia, agonizante...

Venha

Se queres quem eu durma bem, venha

Não deixe que a mágoa me detenha

Quem ama, é também quem te desdenha

Me enlace, me ultrapasse e vá além


Se queres que eu durma bem, venha

E tire toda amarra dessa fera

Quem grita é também quem te espera

É quem na ânsia de querer-te nela

Esquece todo jamais, todo porém

Lubri... o quê?

Eu ouvi minha vó dizer

Que a tarde estava lubrinando

Lubrinando, minha vó, o que é que é isso?

Garoando, minha neta, garoando.


Quando o céu com sua mão grande e macia

Vai passando como se acariciando

E o vento se for forte e corajoso

Cada gota vai secando, vai secando


A gotinha de tão bela e pequenina

Com o vento vai voando vai voando

E com outras a uma folha distraída

Vai molhando, minha neta, vai molhando


É o choro disfarçado da tardinha

É a lágrima teimosa que vai rolando

É o frescor da minha janela

Lubrinando, lubrinando, lubrinando

Gota pequenina

Ah gota pequenina

Do céu que me fascina

Ah, vem e me ilumina

E ensina-me a viver


A gota que cai, da chuva no telhado

É a mesma que sai dos olhos da morena

Ó gota que vem da chuva passageira

Carrega o meu sofrer


O raio de sol nos olhos da morena

Enxugam a dor, da água derradeira

O meu coração se enche de alegria

E torna a se iludir

Alma

Para quê me explicar

Se você não vai me entender

Essa minha vida sem fatos

Completamente sentida

Imaginada sem querer


Minha alma é o meu mistério

Todo o resto é irrelevante

Sou faceira, sou farsante

Falo pra te distrair

Pergunto o que não quero ouvir


Quando olho nos teus olhos

Vejo um toque de ternura

A minha alma é só sua

Mas eu não sinto você

Você olha e ainda não vê


Para quê me explicar

Se você não vai me entender

Sempre que eu me mostro eu me calo

Se me perguntas eu nego

Ou deixo coisas por dizer


No entanto eu sou clara

Pra quem lê nas entrelinhas

A minha alma é só minha

A minha alma é só minha

Para quê lhe explicar

Para que me iludir

Nesse mundo todos nós estamos sós...

Sou sua

Só depende de você,

Me aceite como sou.

Basta olhar, pensar e repensar,

Já não é mais tempo de conquistar;

É tempo de saber o que querer,

Eu quero você.


Você pode dizer o que quiser,

Que demorei demais para decidir.

É que como sempre fiz, me defendi,

Mas você soube como me vencer.


E agora que estou indefesa,

Me acolha, me ame, me veja,

Me beija, me beija, me beija!

Beija meu corpo e minha alma;

Sou sua.

Shii...

O que está atrás de um segredo

que o desejo de ser revelado?

Pois se o segredo, nada é

que um desejo sufocado.

E não há um só segredo

que seja de todo velado,

Porquê há sempre "o desejo"

que deseja ser contemplado.


E ainda bem que há segredos

que ainda não foram contados

Pois onde há segredo, há desejo

E onde há desejo, há pecado.

Quem sabe um dia

Quem sabe o mundo,

No seu intrépido gemido,

Ouça no silêncio

A voz de Deus;


Quem sabe a paz,

Com seu amor absoluto,

Perdoe a dor do filho morto

Que a mãe carrega nos braços seus;


Quem sabe o poeta,

Ao arrancar a lágrima do poema,

Expurgue a mágoa

Do amor que se perdeu;


Quem sabe, meu Deus, quem sabe

O mundo de uma vez entenda

Que a dor não passa da consequência

De uma lição que não se aprendeu.

Presente

Para quê preencher um espaço em branco

Se o vazio do meu peito em pranto

Não se vai com dizer fugaz

E se o amor já não tem encanto

Para quê pesar o doce manto

De lágrimas que não choro mais

Se o passado já tem seu pranto

E se o furor já cessou seu canto

É que a vida não volta atrás.

Não me constranjas

Quanto mais me constranges

Mais me escondo

Nesta veste de pessoa incomodada

Nesse sorriso de uma alma sem consolo

Nesta prisão da minh’alma encarcerada

Quanto mais me constranges

Mais eu morro

Ou eu mato essa pessoa desejada

Essa alma fascinante sem retorno,

Como pessoa que já foi condenada.

Mais eu morro...

Mas é de morte matada.


Quanto mais me constranges

Mais me escondo

Eu sou forte, mas nas grades me acomodo.

E pro peito arfante, incomodo,

Com meu jeito de ser tanto vibrante.

Não sou pessoa, sou poeta

Não sou mente, sou um coração pulsante.

Mamãe

Ah, minha mãe...

Quão tolo é o amor!

Há gestos, olhares, palavras ...

Quão grande é o meu rancor,

Que deles desdenha, amarga.

Tenho medo, me desculpe,

Temo olhar o horizonte,

Ver o sol enrubrecer a fronte,

Ver no mundo uma ilusão distante,

Sem a ninguém ter, assim, amante,

A sufocar, de todo, a mente...

Infertilidade

A dor que sinto é difícil de compartilhar

E dói com tanta frequência,

Que mal me restam

lágrimas para chorar

É uma dor de não ser

É uma dor de não ter

E ao mesmo tempo que tento

livrar-me, dar-me alento,

ser apenas mulher

a dor rasga-me o ventre

e o rubro quase perene

fita-me dizendo:

- Mãe, ainda não é!

Disfarce

Disfarce, espere o desenlace,

Arranje uma desculpa,

Não sorria, não assuma,

guarde o que ainda é seu


Não olhe, disfarce,

Não toque, não abrace,

E vista a fantasia

de que já não se perdeu


Resista, insista,

Dê uma de bem quista

Assuma o controle

do naufrágio em alto mar


E no final do dia

Se entregue à maresia no primeiro olhar

Caminhos molhados

Lágrimas no meu rosto,

Brotam e escorrem dos meus olhos,

Percorrem o meu corpo,

No doce molhado da tristeza;


Molhando e gritando por socorro

D’alma expelem seu suplício

E dos olhos vermelhos do abandono

Imantam um invólucro do fascínio;


E caem,

Percorrem os caminhos proibidos,

Deliciam-se nos castos contornos,

E antes de chegarem aos seus destinos,

Cessão, no silêncio do meu choro.

Bondes

Há bondes que na rua passam

Que nem sequer chamam a atenção

Como há muitos em minha vida

Que não tocam meu coração


Vi, porém, assim na rua

Um bonde na contramão

Veio atrás de uma jovem

Que perdera a condução


A jovem me confundiu

Por perto de mim estar

Perguntei se era a mim

Que o bonde viera buscar


O bonde parou confuso

Pois só um podia entrar

Entra moça, pois eu sei

Que outro bonde irá passar

Boa noite

Boa noite, você que me afaga a alma

Deixe eu te mostrar minha calma

Deite cândido, inocente,

Durma sob o meu amor


Boa noite, anjo que também me inflama

Nunca digas que me amas

Guarde o que lhe é perene

Não é hora de se expor


Apenas durma, pétala de rosa

Durma e se renove em prosa

Deixe que eu lhe tire a dor

Apenas durma, doce alma minha

Deite sobre a poesia

Durma sob o meu amor

Baixas expectativas

Não quero muito

Mas será que é?

Meu pouco é muito,

Pra quem nada quer

Baixas expectativas

Baixas, mas sempre lá

Sempre lá, sempre

Como um zumbido a incomodar

Eu te invejo

Quero ser como você

Quero nada sentir

Quero nada sofrer

Quero nada esperar

Quero nada querer

Nada

Nada

Nada

E repito esse mantra como uma prece...

Ah, menino...

Eu te olho assim na rua

Como teu jeito de menino

Me parece alma tão pura

De inocente pequenino


Mas se seu olhar me vê,

E me vê assim, mulher

Passo a então temer

Se é a mim que você quer


Desde o fio de cabelo

Até a ponta do pé

Parte alguma do meu corpo

Faz meu ser como ele é


Como pode me querer

Pelo que aparento ser?

Se minh’alma, se o que sou

Isso aí você não vê?


Ah, menino, vê se muda

Esse seu olhar pra mim

Que só o que me segura

É você me olhar assim.

Aceitas

Venho aqui me entregar por inteiro.


Se queres meu amor faceiro,

Aceitas sem dizer nenhum sussurro,

Sejas tu o último, e não o primeiro

A escutar meu sentimento tão profundo;


Meu amor habita as trevas e o silêncio

E em nada celestial eu o resumo.

É a beleza que o torna tão intenso

E o medo que o deixa tão soturno;


Mas se venho a falar-te sem reservas,

Que te quero, te desejo ao meu lado,

É que quis sair louco das trevas

Sob forma de um ente alado;


Aceitas meu amor que só te guarda

Como um anjo que te vela e te deseja.

Aceitas sem nenhum recato.

Beija essa boca que te beija.

A canção do mundo

O mundo é canção singela

Que só eu pareço ouvir

Não há coisa mais triste e mais bela

Do que o som de estar aqui


O mundo é canção que vela

A criança que estar por vir

É a mãe que contempla cansada

Sua razão de persistir


O mundo é canção que revela

O amor a suspirar

O amor que queima e que gela

O que fica e o que deixa no ar


O mundo é canção que sela

A ternura de um olhar

É canção que nos liberta

Mas que não sabemos cantar.

Introdução

Quem quiser que conteste: a poetisa ou a poesia. Só sei que as palavras exalam de mim como meu cheiro. O que é, eu não sei. Só sei que é. Só sei que sou. Aceite ou rejeite, mas não tente transformar um limoeiro numa pessegueira.